quarta-feira, 5 de maio de 2010

Adeus suspendido

Que a vida é curta já eu me tinha apercebido. Que eu não era imune aos maus acasos da mesma, também já. Perdi a conta de todas as situações por que ando a passar desde o ano passado. A sério que sim. Já não sei enumerar nem recordar (ou talvez até recorde de mais, e tente enumerar de mais). Por vezes dou por mim na rua, imaginando que o ar que respiro é totalmente diferente, que as plantas pertencem ao outro canto do mundo, e que consegui fugir finalmente. Imagino que divago sei lá eu por onde, longe de tudo (e isso é que importa, estar longe). Por vezes acredito que o sol é grande e que a sua luz se cruza com todas as nossas vidas, mantendo-as acesas e com sentido. Por vezes falo sozinha, com o vento, ou com o mar, e refilo, refilo muito acerca de todas as injustiças do mundo, refilo das pessoas e da sua mente negra, refilo das simplicidades transformadas em enormes e utópicos tornados, refilo por estar no Inferno. Por vezes imagino-me a gritar num deserto. Por vezes, muitas das vezes, sonho que sou mais corajosa do que provei até agora ser, ambiciono a existência suprema sem nada por ela fazer e acordo com noção do meu nada, voltando novamente à teoria da luz solar. Escondo-me nas sombras dos arvoredos e mantenho-me lá até cegar por completo, não uma, nem duas, mas todas as vezes que necessitar.
Por vezes faço tudo isto, por vezes sinto tudo o que tu sentiste. Mas nunca, nunca ousei quebrar o meu único pertence: a Vida. Deixaste-me em choque ao tentares abandonar-nos assim, com um livro de mil páginas por escrever. Fizeste-me pensar. Arrepender-me de tudo o que fica por dizer a uma pessoa quando chega a sua hora (ou neste caso, quando dita a sua hora), arrepender-me de não te ter salvo, de não ter reparado na tua dor, de não te ter dado atenção. Hoje sei que a tua presença não é garantida, que as marcas no teu pescoço não são perpétuas (tanto do lado de cá como de lá), e isso perturba-me. Não consigo sequer descrever todas as emoções que me preenchem neste momento, não consigo descrever no que isto me tornou interiormente.

Tornaste-me um trapo da morte.

3 comentários:

  1. olá
    parece que o sol se foi desses lados
    ante esses imaculados
    olhos de olhar e sentir
    vá lá
    vem ouvir...um Fado

    beijinhos
    e
    que o sol regresse e aqueça

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  2. que tudo vá bem
    é um desejo...

    jocas fofas

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  3. Olá Marta
    Tantos sonhos e tanta vontade de viver... talvez de viver rápido demais. Sempre que leio os teus textos fico a pensar que és uma pessoa que sente muito e que por conseguinte vive tudo muito intensamente. Isso é muito bom e quando conseguires contextualizar tudo o que te acontece vai parecer tudo diferente.
    Depois de me teres aconselhado vários livros venho aqui eu deixar-te uma sugestão: "A Profecia Celestina" de James Redfield. Acho que é um bom livro para nos abrir as portas do pensamento e que nos faz olhar para a vida e para a natureza de outra maneira.

    Beijinho :)

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